sábado, 12 de junho de 2010

NÓS, AS MULHERES. ELES, OS HOMENS

- Eu comecei a sentir algo estranho. Vi no céu letras enormes de cores alaranjadas e rosas, como se fossem enigmas. Senti um arrepio intenso por todo o meu corpo, uma sensação de que estavam segurando a minha mão e então eu comecei a desenhar vultos, rostos de pessoas que eu nunca tive contato e de repente um homem começou a vir na minha direção, montado num cavalo. Ele tinha belos traços bem definidos: Um olhar penetrante que chegava a me cegar, uma boca de lábios carnudos e vermelhos, uma barba rala, mas que lhe dava um toque bem masculino, cabelos cacheados, um porte físico altivo, interessante, olhos verdes, firmes, que se fixaram nos meus. Quando chegou bem próximo a mim, desceu do cavalo, pegou-me pela cintura. Disse que tinha a nítida sensação de que já me conhecia, que estava completamente envolvido por mim e que nunca havia se sentido tão feliz. Eu apenas continuava olhando para aquele homem, tendo as mesmas sensações que ele, impressões, sentimentos, emoções fortes. Perguntei seu nome, de onde vinha e o que estava fazendo ali. Seu nome era Jean Pierre, morava num vilarejo ali próximo, Saint Laurent, havia saído para dar um passeio a cavalo, mas que não pretendia ir tão longe, porém algo o impelia a visitar o Castelo dos Feldon’s e quando me avistou quis imediatamente aproximar-se. Contou-me ainda que era casado com Isabelle Duprat, uma das moças mais bonitas e talentosas do vilarejo. A Srta Duprat era pintora e seus quadros já estavam ficando famosos na França. Por um momento senti uma pontinha de ciúme do modo como ele se dirigia a esposa, mas tentei não demonstrar. O sol já estava se pondo e então me despedi de Sir Jean Pierre. Ele olhava-me como se quisesse dizer algo mais e de repente tomou-me em seus braços e beijou-me ardentemente. Ao sentir seus lábios e seu corpo colado ao meu, senti que a nossa respiração tornava-se ofegante. Minhas mãos tocavam seu rosto e as dele tocavam meus cabelos. Sentíamos uma sensação tão gostosa, tão intensa, que não conseguíamos nos separar. Olhei em seus olhos e como os meus estavam marejados de lágrimas. Então quando consegui me recompor, disse a ele que não podíamos fazer o que estávamos fazendo, pois era um homem comprometido e que tal tipo de atitude mancharia a nossa reputação para sempre. Mas o desejo era mais forte. Não podíamos mais controlar nossas emoções e a razão num breve momento ficou de lado e voltamos a nos beijar. Tentei desvencilhar-me de seus braços, mas não resisti. De repente comecei a ouvir uma voz ao longe chamando meu nome, então vi que era você já bem distante de mim.
- Meu Deus Cris, você conseguiu ver e sentir tudo isso que acabou de me contar?
- Sim, Ana Era uma sensação de que estava em outra dimensão, em outro mundo, em outro lugar. E fiquei ali, meio tonta, forçando meus olhos para visualizar aquele homem e ao mesmo tempo ouvindo a sua voz. E de repente tropecei e caí e Pedro apareceu do nada para me socorrer. Será que foi coincidência, Ana? Será que era o mesmo homem da minha visão?
- Que loucura Cris, mas acho que foi mera coincidência e você não está amais acostumada com o ar puro daqui. Mas adorei o nosso passeio. Nossa você está com aquele jeito estranho novamente... Também, deve ser de cansaço. Venha, vou pedir para a Sandra lhe ajudar a tomar um banho bem gostoso e depois saborearmos o jantar de mamãe, certo?
_ Sim, sim. Claro que sim, Ana.
Cris: “Eu ainda não estava entendendo nada do que havia se passado ali. Que homem era aquele? E por que comigo? Será que o homem da minha imaginação era Pedro na realidade? Ah, bobagem minha. É claro que uma coisa nada tem a ver com a outra... Acho que estou vendo filmes românticos demais...
No dia seguinte já estava sentindo-me bem melhor. Ana resolvera dar uma festa em sua casa. Disse que eu poderia convidar algum amigo. Resolvi então ligar para Pedro, mas ele não quis ou não pode atender.
Paulo não gostava da amizade que havia entre Ana e eu. Ele me detestava, pois eu sempre fui rodeada por homens de todas as idades e isso era uma afronta para ele, já que sempre foi um homem muito machista, muito preconceituoso. Mas havia algo nele que me deixava nervosa, logo eu que sempre fui tão dona de mim, segura em tudo que fazia. Ana detestava o modo como ele me tratava.
- E então Cristina vai trazer algum namorado hoje à noite? Perguntou Paulo ironicamente.
- Você está redondamente enganado Paulo, pois estou sozinha. Você sempre com essa mania de me arranjar namorado.
- Conhecendo você como conheço, duvido que não tenha algum Mas só te peço um favor, deixe seus amiguinhos longe da Ana.
Paulo deu as costas para Cristine, que se remoia de tanta raiva. Como ele podia tratá-la assim diante de Ana. Mas Cristine era o tipo de pessoa que não ficava ressentida por muito tempo. Subiu para seu quarto e foi tomar seu banho. Enquanto tirava a roupa tinha a sensação de estar sendo observada. Foi até a janela e constatou que não havia ninguém no jardim. Começou a entrar em pânico, com o corpo todo arrepiado. Olhou debaixo da cama, dentro dos armários, no banheiro e de repente alguém lhe toca no ombro. Cristine solta um grito de pavor:
_ Calma Cristine, sou eu.
Era D. Regina, querendo saber por que ela ainda não havia descido para o jantar.
- Ai D. Regina. Que susto. Credo. Que sensação estranha. Meu Deus!
- Mas o que foi menina? Você está pálida! Viu algum fantasma?
- Ai, D. Regina, já vem com esse assunto. Não. Não vi nada. A senhora sabe que não acredito nessas coisas. Respondeu Cristine com ar de deboche.
- Não acredita é?
- Não.
- Então porque gritou e fez essa cara de pavor quando te toquei, hein?
- Vamos mudar de assunto D. Regina. Olha eu vou tomar meu banho e já desço está bem?
- Está bem, está bem. Anda logo menina, já estão todos prontos sabia. Só falta você.
- Chegaram alguns amigos de Paulo. Inclusive chegou alguém que você conhece.
- Quem D. Regina?
- O rapaz...
- Que rapaz D. Regina?
- O rapaz, o Pedro, o que lhe ajudou outro dia...
- Ele veio? Meu Deus, que bom, estava agora pensando nele, mas não consegui ligação. Que roupa eu coloco D. Regina? Olha pode ir descendo que eu já vou.
Cristine sentiu que D. Regina tinha algo para lhe contar, mas ela preferiu fazer que não havia notado.
Enquanto ia trocando a roupa Cristine voltou a ter aquelas sensações estranhas: pensamentos e imagens que passavam rápido, como cenas de um filme.
Era como se voltasse num passado distante, uma outra vida, uma outra mulher...
Resolveu tirar aqueles pensamentos da cabeça, colocou um vestido, soltou o cabelo e desceu para a festa. Olhou ao redor, mas não encontrou Pedro. De repente ele surgiu na sua frente lhe estendendo a mão para lhe cumprimentar. Quase desmaiou. Empalideceu. Precisava de ar imediatamente.
- Olá Cristine. Cristine? Você está bem?
- Sim, sim. Claro. Como vai? Não vai me apresentar a sua amiga?
- Sim. Quero lhe apresentar minha esposa, Marluce.
Não poderia ser, pensou Cristine. “Esposa? Mas como fui boba, imatura, como não havia pensado nesta possibilidade? Respirou fundo e a cumprimentei”:
- Muito prazer, Marluce.
- Olá Cristine. Tudo bem? E a sua perna, melhorou?
- Já estou melhor, obrigada.
Cristine sentiu uma pontinha de raiva, pois Pedro havia comentado para esposa sobre o acidente, mas será que ele lhe contou como acontecera? Ana vai ao encontro dos casais e tenta amenizar a situação:
- Vejo que já se apresentaram, disse Ana encarando Pedro.
- Cristina, Marluce é uma das melhores professoras e pintoras de Artes Plásticas, e Marluce a Cristina é a minha melhor amiga e também uma das jornalistas mais renomadas de nossa cidade.
- Ora, gentileza sua Ana.
Cristine tenta ser cordial com Marluce:
- Ah, sim, já tive oportunidade de conhecer seus quadros numa exposição no shopping próximo a minha casa.
“Pedro e eu não conseguíamos evitar a troca de olhares. Comecei a sentir uma palpitação forte, meu coração parecia que iria disparar. Então resolvi ir para a sacada. A noite estava linda, com uma lua cheia de causar inveja a qualquer mortal e um céu tão estrelado, que mais parecia um tapete de estrelas. De repente sinto alguém chegar por trás de mim, me pegar pela cintura. Virei-me rapidamente e fiquei frente a frente com Pedro.
- Pare com isso. Você é maluco Pedro?

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