domingo, 11 de abril de 2010

NÓS, AS MULHERES. ELES, OS HOMENS.

CAPITULO III

- Pois é Cristina. Como você sabe lhe convidei pra vir aqui, claro por saudade, mas também porque você é a única pessoa que me conhece de verdade e eu não teria como te mentir ou aparentar que meu casamento com Paulo não vai nada bem.
- Ai Ana, ao mesmo tempo em que fico triste por você e Paulo não estarem bem, fico aliviada que você pelo menos não está indo contra aos seus sentimentos, pelo contrário, o sinal vermelho acendeu e você está atenta.
- É amiga. Há muito tempo que o “sinal vermelho” está piscando dentro de mim. Só que agora antes do vermelho piscar, o amarelo já me chama a atenção de várias maneiras. Mas Cris, antes de eu falar sobre o meu casamento estou muito curiosa e surpresa com a sua separação, já que você e Oswaldo pareciam tão felizes.
- Ele até poderia estar, mas eu estava me sentindo sozinha, vazia, infeliz.
- Fale-me sobre o seu casamento Cristina. Quais são os “sintomas” de um casamento falido?
- Desgastado, amarelado pelo tempo. Sem forma, sem gosto, pura rotina. Libido em baixa. Nenhuma demonstração de interesse um pelo outro, de carinho ou consideração, final de jogo com empate: zero a zero, sem disputa, sem atenção, sem correr atrás do prejuízo. Olhares caídos, sem brilho, mau humor, indisposição, dores de cabeça à noite e perda de apetite durante o dia, ambos taciturnos, vazios, sem iniciativa, sem perspectiva, sem objetivos em comum, sem sonhos, sem ambição, sem eira nem beira, separados pelo temor, separados pelo cansaço e o fator determinante do fim: sem amor.
- Meu Deus Cris. Vou anotar esta listinha e depois vou analisar quais os pontos em meu casamento não anda bem.(risos)
- Tá bom Ana. Agora é a sua vez de desabafar.
- Não senhora. Você ainda não me contou sobre a reação de Oswaldo com seu pedido de separação. Fale.
- Bem amiga, após ter recebido o telefonema levando o fora do tal cara do elevador, resolvi ir para um barzinho e enchi a cara.
- Você? Mas você detesta bebida...
- Ah, mas na situação em que me encontrava fui obrigada e também para me preparar para encarar Oswaldo. Fazia muito frio naquela noite. Chovia incessantemente. As ruas estavam desertas. Abri a porta bruscamente e entrei tropeçando na sala. Oswaldo permaneceu intacto na sua poltrona em frente à lareira. Aproveitei e sentei na poltrona ao lado dele. Oswaldo permanecia calado. Pairava no ar um clima de hostilidade, insegurança e desconfiança. De repente ele saltou da poltrona, ficou na minha frente, me olhou nos olhos e começou um interrogatório:
- Por onde você andou Cristine?
- Por aí Oswaldo, por aí.
- Por quê não telefonou? Você sabe que horas são?
- Calma Oswaldo, calma, Não precisa se alterar.
- Eu não estou alterado, eu só estava preocupado com você. Te dei algum motivo pra você fazer isso comigo? Tratar-me dessa maneira?
- Oswaldo se você continuar levantando a voz, gritando, urrando, eu vou me recolher.
- Ah, mas não vai mesmo. Daqui você só sai quando tiver uma resposta plausível. Por quê você continua me ignorando? Responde?
- Você bebeu novamente. Está completamente embriagado. Embriagado pela bebida e pela sua desconfiança, embriagado de ciúme. Só assim pra você conversar comigo. Aos gritos e ofensas.
- Cala a boca sua cínica.
- Cínica por quê Oswaldo?
- Você ainda não me respondeu por onde andava?
- Sandra e eu fomos ao cinema e depois passamos na casa de Pietro, seu namorado.
- Mas quanta mentira! Quanta enrolação! Sua irresponsável, sua...
- Sua o quê, hein? Vamos. Termine!
- Sua traidora, mentirosa.
- Chega! Chega de tantos desaforos, palavras inúteis, insinuações baratas.
- Você acha que vou acreditar que foi ao cinema acompanhada de uma amiga?
- Tá bom Oswaldo. Eu estava acompanhada sim. Pronto. Falei e agora vai me bater?
- Mulherzinha de quinta, piranha, vagab...
- Pode parar por aí. Você já abusou demais. Abusou da minha paciência. Dos meus sentimentos, da minha conduta, de mim. Basta. Quero agora a nossa separação. Se pra você eu não passo de uma mulherzinha, uma inútil, uma traidora, pra mim você nunca existiu. Passou desapercebido. Te ignorei sim. Te exclui sempre. Eu sempre vivi aprisionada pelas suas palavras e atitudes. Você é um dos seres mais rudes, mais grotescos que já conheci. Sem escrúpulos, sem sentimentos. Mas neste momento após ter ouvido tanta asneira, a minha consciência libertou-me dessa escravidão, dessa dor, desses seus julgamentos precipitados, inapropriados, repudiáveis. Eu irei te ignorar para sempre, irei te excluir para sempre da minha vida, do meu coração, dos meus pensamentos. Trate de romper com este laço que um dia nos uniu, desatando estes nós “cegos” que foram feitos com a sua ignorância, com a sua prepotência, porque os nós que um dia eu fiz, a partir desse momento foram desfeitos, um a um. Adeus Oswaldo!
- Vai sua cadela. Assassina! Assassina! Você acaba de me matar. Matou minha coragem, minha alegria de viver, meus desejos, minha afeição por você. Só por você. Eu sempre fui muito apaixonado por você e olha como estou agora. A que ponto cheguei. Fui humilhado, pisoteado, Me sinto perdido, sofrido, desesperado. Como é que você quer terminar com uma relação de mais de dez anos, como se fosse um final de um espetáculo? Como se fosse um final de um jogo? Nosso casamento nunca representou nada pra você, sua covarde? Vai, pode ir. Mas não olha pra trás. Suma de uma vez por todas da minha vida, sua, sua...

- Ai, Cristine estou toda arrepiada. Estou até com pena dele, coitadinho.
- Ele chorava feito uma criança. Então saí feito uma louca pela rua, deixei tudo que era meu. Enquanto ia afastando-me da casa, sentia medo, desespero, emoção, alegria, e quanto mais longe eu ia mais o meu coração ia ficando aliviado, porque consegui fugir de um passado desgastado pela acomodação, pela falta de opção, pela falta de lutar pelo meu espaço. Então liguei para uma amiga e perguntei a ela se poderia ficar alguns dias na sua casa até resolver a minha separação.
- Olha o cafezinho.
- Obrigada D. Regina, a senhora é uma mãe para mim.
- Olha minha filha, o que você precisar de mim estarei sempre pronta pra te ajudar.
- E agora amiga? O que você pretende fazer? Esperar ou vai procurar por outro amor?
- Sabe Ana, cansei de procurar, de buscar, de tentar encontrar o homem certo. Acho que ele não existe. Que é fantasia de adolescência.
- Pare com isso Cristine. Você é muito bonita, inteligente e madura o suficiente para querer se fechar no seu mundinho encantado. Saia e viva a realidade. Os homens estão aí, cheios de preconceitos, medos, pensamentos obscuros, fantasias e loucuras, desistindo de relacionamentos duradouros, porque a palavra fidelidade está amedrontando, ou melhor, os afugentando.
- Você tem razão Ana. Sinto que os homens estão evasivos, dissimulados, agindo como nós mulheres antes da revolução feminina: submissos, frígidos, insatisfeitos por dentro, fingindo estarem saciados por fora.
- Sim. Muitas de nós naquela época e ainda hoje mesmo depois de transarem com seus maridos fazem cara de dever cumprido.
- Mas não vamos muito longe não minha cara. Eu mesma após muito tempo de casada não tinha coragem de me trocar na frente do Oswaldo.
- E eu que só transava com a luz apagada. Fazia muitas vezes o papel da “boneca inflável”. (risos).
- Você? Com o Paulo? Não vem Ana. Não acredito...
- Olha, vamos dar uma volta. Preciso desabafar.
- Casamento falido? (risos)
- Pedi “concordata” e não tenho como saldar a “dívida”. (risos)

DEVANEIOS
A solidão: é a pior aliada de uma mulher. Ela faz nos sentir tristes, derrotadas, amargas, carentes, dementes. A solidão causa uma dor tão forte, tão arrebatadora, tão sofrida que é impossível fazer ou ser diferente.
A saudade: vontade enorme, grande, imensa, de estar juntinho de quem se ama. Impossibilidade de tocar, olhar, falar. Sentimento de impotência.
Verdade: Quero tentar, vivenciar, andar lado a lado, enfrentar, pagar pra ver, me entregar.
Conseqüência: errar, perder, sofrer, se arrepender, se atirar pela janela ou tentar se curar.
Felicidade: sentimento envolvente, consistente, abrangente.

OLHA SÓ>>>
Gente obrigada de coração pelos recadinhos. Soube que alguns de vocês não conseguiram deixar o comentário por aqui, mas podem deixar no meu e-mail, no meu orkut, no facebook. A opinião, a visão de vocês é muito importante prá que eu prossiga neste projeto, tá?
Até o próximo capítulo
Beijos